domingo, 18 de julho de 2010

Perto de você

E quem mandou me olhar assim?
Essa sua cara de quem desafia mesmo sem querer confrontar
Pensa que pode fazer o que quizer de mim?
Só porque me sinto tonta na palma das suas mãos?
Eu corro pra não ser quem eu fugi de ser a vida toda
E sinto toda delicia do veneno da serpente a escorrer no meu pescoço
Mas quem mandou me dominar assim?
Começou na brincadeira e foi arrepiando as minhas pernas, meu peito e pescoço
Atirando na minha cara a vontade tórpida de ser mordida pelos dentes seus...
Eu que não tinha medo nem da vida nem da morte
Eu dava risada dos seus objetivos enquanto eu não tinha rumo algum
E hoje digo que pode ser amor, paixão, o escambau que seja
Eu me perco nas verdades inventadas e nas expressões desmedidas de desejos e vontades
Seu caminho escorrendo pelo vão dos seus dedos e eu fazendo hora
Decoro o timbre da sua voz pra poder entender quando e como fazer
E a frequencia do seu pensamento a combinar com o meu
Traduzo seu jeito de falar pra saber das suas pretenções
Mas exijo, pro bem ou pro mal, que você me diga com toda sinceridade
Eu gosto é da verdade
E pra falar em verdade...
O que eu quero é deixar no teu sangue um pouco do meu
E ser metade de tudo que anda à flor da sua pele
Porque seus passos te levam pra longe dia sim dia não
E não tão distante já não poderei confundir nossos perfumes
Ou apertar meus dedos na sua nuca e depois de nos estranharmos, nos divertirmos, nos explorarmos e nos amarmos numa só noite
Adormecer no seu abraço o meu cansaço
E acordar pra um passo a menos na nossa trilha
E para cada distancia sua a certeza de que eu vim querendo ficar
E estar cada vez mais perto do mais perto que eu possa chegar
Eu vou passar.
Como água quente que desliza sobre o corpo
Como que vem para acalmar
Eu vou passar.

de
SACO
Cheio!

Pronto. Falei.

sábado, 17 de julho de 2010

Como os nossos pais...

Estive mechendo nas minhas coisas e encontrei um texto que escrevi há uns 3 anos... As coisas não mudaram muito de lá pra cá, então resolvi passar pro computador e deixar registrado no meu blog por ter feito tanto parte de mim. E principalmente por acreditar que eu não devo ter sido a única a pensar assim um dia.




"Ao meu pai e minha mãe:


Há muito, o relicário que eu fui se fechou. Os esforço em mantê-lo puído era dado pelo seu amor.
O amor fora demais, um para com o outro. E tudo o que restou fui eu. A ponte entre o passado e futuro. O feixo. A fechadura trancada.
Recebida entre lágrimas de emoção, deixada entre pedidos de perdão. Ninguém teve culpa de nada, e eu quebrando meus laços.
Olhei-me, pobre (de mim).
Aos dezesseis saí de baixo das asas da minha mãe e, muito antes, dos braços do meu pai.
Meus pais, a sua união instável refletiu-se na instabilidade da filha que num instante passado fechou os olhos e chorou... Era demais.
Crer em si era demais. A liberdade era demais. O mundo era grande demais e eu, um grão de arroz movimentado pelo ritmo dos ventos, indo de lá pra cá.
Hoje me defendo.
A boca que gritava na tentativa de uma barreira de proteção, hoje se cala. A minha luta me basta, a de vocês é outra e não cabe no meu caminho. Peguem um atalho.
Esse é o meu caminho e meu lar imaginário.
Não tenho um quarto pra chamar de meu, nem uma cama que seja minha. Mas eu tenho uma vida, e esta vocês me deram com o concentimento de Deus. No resto, aos poucos eu me acerto.
Ainda domada pelas circunstancias, presa à liberdade que senti pra mim. Há, ainda, as correntes e as caras feias. E na cama emprestada eu choro meus medos e por vezes solidão.
No fundo, a necessidade de um carinho, um abraço, e a vontade de voltar à infância protegida por camadas de sonhos e sorrisos.
E há também, no raiar dos meus dias, as forças que reúne nos sonos bem ou mal dormidos, o peito estufado e a prova de que eu sobrevivi sem esfriar, sem julgar ou atacar com pedras contra janelas.
Meus olhos ainda brilham.
Acredito em mim.
Acredito também em vocês. Longe ou perto, ausentes ou presentes. Cada um me passando à sua maneira a força necessária para que eu possa continuar.
Afinal sou herdeira dos seus traços, passos e gestos. Sou história. Sou concreta. Sou filha.


E vocês, pra sempre, meus pais."


domingo, 11 de julho de 2010

Sereno é quem tem a paz...


Para ser forte e suave, escrevo com mãos firmes a presença sutil dos meus segredos...
Mas é preciso apenas um pouco de segredo e de mistério para as coisas parecem maiores do que são.
Guardo tanto e tão profundamente meus pensamentos que desfarço entre reticências a confissão perigosa e vulgar.
Tenho o mundo nas mãos, tenho a resposta de todas as perguntas e as portas do meu caminho, todas abertas. No entanto, como estivesse embriagada, ando tropeçando de pedra em pedra, vendo as coisas de modo distorcido e ilusório. Dói-me a imaginação não sei como, mas é ela que dói.
É o resultado da preguiça de tanta futilidade, de tudo aquilo que o mundo entende como primordial e é, no fundo, tão secundário.
Gostaria de ter um manual de atitudes sensatas, de raciocínio lógico e tudo mais que as situações desse mundo pedem.
Ah, estou farta e cansada. Tenho 5 ou 50 anos, qualquer idade que a minha idade recusa.
Eu respondo às minhas próprias perguntas. Não que eu as saiba de cor. Eu não sei. Mas mantenho a calma e tranquilidade para me aplacar minha própria demência. E tento ser discreta para confiar ao menos em mim. E lógica para entender a minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. Ser por dentro a grande fúria de uma tempestade e a bonança do sol e, quem sabe, o arco-íris.
Eu me coloco em certa situação e encaro meus demônios a sós. Sem por nem tirar testemunhas.
O chamo para um café da tarde e a luta começa.
Uma estranha sensação de segurança continua tomando conta do meu corpo e a mim pouco importa quem vence ou quem perde.
Essa segurança sou eu me dando a mão, com a coragem necessária para encarar o que há de vir.
Ainda que sobre apenas a carcaça, o meu escudo é forte.
É o que me cala e me protege.
É o meu segredo que me guia e mantém a serenidade.
E me entregar por tão pouco, é colocar pouco preço no valor que eu tenho.